O que torna o relacionamento difícil, seja entre parceiros, amigos ou familiares?
Tenho visto no meu trabalho e percebido em minha vida, que um dos grandes problemas nos relacionamentos, o gerador de conflitos, seria a nossa forma de pensar. Como assim? Muitas vezes, mesmo sem perceber, “do nada”, como dizem alguns, começamos a pensar que um amigo está diferente conosco (ou irmão, sobrinho, parceiro, etc), com base numa atitude, seja porque a pessoa não atendeu à nossa ligação, ou não respondeu ao sms, não curtiu nossa página no face, etc. Incrível! não é preciso muita coisa para que esse pensamento venha nos assombrar, concorda? Fato é que estamos sempre observando e analisando o comportamento de outras pessoas e achamos que sabemos o que estão pensando ou fazendo. Mentira? Quantos de nós já disse a alguém: “você tá com cara de que tá aprontando alguma coisa!!?”
Quem nunca o fez que atire a primeira pedra!
Eu mesma já fiz muitas vezes, o que há de mal nisso? Depende! Essa mania de analisar os outros, seja pra antever, prever e se defender, nos leva a ter pré-conceitos, fazer julgamentos e, principalmente, sofrer com antecedência, tendo muitos momentos de ansiedade. Defender? Sim. Geralmente, com esse tipo de pensamento temos o objetivo, mesmo sem saber, de prever e nos defender, pois esperando o pior, a decepção é menor, pensam alguns. Você já ouviu essa frase? E funciona? Na verdade não. Só faz com que tenhamos uma quantidade grande de pensamentos sobre uma mesma coisa e tenhamos ansiedade, além de sentimentos como raiva, tristeza e medo. De tanto pensar, até criamos histórias, algumas fantásticas sobre determinado assunto, já observaram? As pessoas muito pessimistas que o digam. Por isso, pagam alto preço, já que, pessoas que veem tudo por um ângulo negativo, sempre dizendo que tudo vai dar errado, tendem a ter maior dificuldade de convivência, pois estão sempre puxando o outro pra trás, por achar que não vai dar certo.
Padrões de comportamentos
As pessoas consideradas pessimistas não são assim porque querem, mas aprenderam esse padrão. Muitas vezes elas nem percebem que são assim, só quando alguém tem a coragem de dizer e, assim, pode-se repensar e conseguir enxergar isso. Mas cuidado, não estamos incentivando ninguém a sair dizendo aos outros isso ou aquilo, pois nem sempre estamos prontos para ouvir uma verdade e, muitas vezes, ao ouvirmos uma crítica, nossa tendência é revidar, ou seja, derramar os defeitos do outro em cima dele, ou nos justificarmos.
Falando em padrão, citamos o pessimista e quero acrescentar o ciumento e o adivinhador (dos pensamentos do outro), e, nesse sentido, estamos nos referindo ao pensamento distorcido. É distorcido porque não tem como saber o que o outro está pensando, a não ser que tivéssemos uma bola de cristal ou o poder de ler a mente do outro. Aliás, o nome desse tipo de distorção é leitura de mente e, em relação ao futuro, é adivinhação. Como exemplo, podemos citar frases como “Isso não vai dar certo”; “Não vou conseguir”; etc.
Esse, é um padrão distorcido de pensamentos e ocorrem com muita frequência. E o que é preciso fazer para evitar ou diminuir isso? A primeira coisa a fazer é confrontar esse pensamento, perguntando quais as evidências que eu tenho ou se perguntando só porque pensei significa que vai acontecer? É preciso ver que é só fruto da minha imaginação e que a probabilidade de que aconteça é mínima. Existe sim, mas é muito pequena. Então, é preciso confrontar buscando evidências que comprovem meu pensamento, me ater aos fatos sempre que possível e evitar agir e falar por impulso, buscando a veracidade.
É bom também lembrar que pessoas são diferentes, ou seja, não é porque eu gosto e tenho tempo para enviar torpedos o dia inteiro que o outro vai gostar de receber e responder prontamente. Não é porque eu gosto de telefonar aos amigos no meu tempo de folga pra bater papo e atualizar as informações, que o outro vai estar disponível também e vai fazer o mesmo. Sabendo diferenciar isso, já eliminaremos uma série de pensamentos distorcidos e, consequentemente, conflitos. Tudo isso vale não só para amigos, mas parceiros, familiares, vizinhos, etc.
Para exemplificar vou relatar o que eu fiz um dia desses.
Estava indo ao banco no horário do almoço e vi uma pessoa conhecida parada, olhando, aparentemente para o outro lado da rua. Imaginei que estivesse observando o movimento do outro lado da avenida por causa de um assalto que acabara de acontecer, pois o posto de um banco tinha sido assaltado havia poucos minutos. Segui meu caminho e, ao retornar, a pessoa ainda se encontrava no mesmo local e posição. Pensei em puxar uma conversar e, por isso, me aproximei rindo e mantivemos um pequeno diálogo.
– Me conta tudo, não esconda nada! Você viu o assalto? – disse eu.
– Que assalto?
– Ué, teve um assalto ainda há pouco ali (apontei o local).
– Bem que vi alguns policiais, mas não sabia do assalto. O que houve?
Pronto! eu acabara de ter um pensamento distorcido e, ao checar, vi que não tinha nada a ver. Isso não me gerou ansiedade e até achei divertido, porém, dependendo do conteúdo poderia ter trazido transtornos. O interessante é que não percebi que era distorcido até que a pessoa disse não saber nada do assalto. Eu havia feito uma leitura de mente que é um tipo de distorção cognitiva.
Moral: muitas vezes é difícil identificar o pensamento distorcido e evita-lo, podendo ocorrer a qualquer momento, em qualquer situação e com qualquer pessoa.